Popozuda era muito antipática, arrogante, soberba e metida a gostosona. Realmente não posso negar que ela era muito bonita, dona de uns lindos olhos e bundas foras de série, por isso, vivia se exibindo.
Já Dorotéia era muito simpática, humilde, atenciosa e generosa. Tudo que possuía compartilhava, de bom grado, com seus vizinhos e amigos. Valente, de fibra, garra e muita disposição, encarava chuva e sol, trabalhando duro para sustentar a família. Ela, sua família e todos adjacentes não simpatizavam muito com a Popozuda, de modo que vivia lhe praguejando, querendo ver a ruína da rival a qualquer custo.
Sabemos que nesse mundo animal, tanto no irracional quanto no racional, vertebrado ou invertebrado, não importa a classificação, é a lei da sobrevivência que prevalece. E nessa lei, um come o outro, seja cru ou assado, sem dó nem piedade, portanto, quando perece alguém, o cadáver, dependendo da situação, acaba virando churrasquinho.
De tanto ser mau-olhada e praguejada, não é que a bunduda Popozuda um dia se deu mal de verdade! Eu a conheci por acaso e, sem intenção, acabei sendo o principal culpado pelo seu final trágico.
Engraçado como o ser humano faz coisas que não deve e, quase sempre, diz que foi sem intenção! Sem querer, não é mesmo?
Bom, sem mais delongas, esse episódio ocorreu no Cosme Velho – Zona Sul do Rio de Janeiro, a data não me vem à memória nesse momento, mas não vem ao caso agora.
Foi num maravilhoso sábado ensolarado, por volta de meio dia e meia, na mansão dos Garcia onde tudo aconteceu. Os patrões tinham viajado e eu fazia companhia à Raimunda, uma cozinheira muito competente, cheia de dotes e talentos, uma baiana daquelas, muito simpática e arretada. Quando ficou sabendo que o calhorda do seu marido estava morando com outra entrou em uma terrível depressão. Ali na copa, só ela e eu, só nós, tomando uma cervejinha, ouvi, pacientemente seu desabafo. Aquela conversa foi mexendo comigo, algo que a cabeça não controla foi brotando, de modo que fiquei doido para dá-lhe um amasso (mulheres com semblante triste me deixam completamente atraído, alucinado) e ela sempre, mas também com vontade, se esquivando, bancando a difícil. Continuamos nesse chove-não-molha por um bom tempo, mas, como não sou burro, senti que o terreno já me era favorável e resolvi, estrategicamente, deixa-la sozinha cuidando do almoço, mais tarde poria em prática meu bem intencionado plano. E fui à varanda enquanto ela preparava uma deliciosa língua...
(Manoel - Letras)