domingo, fevereiro 18

Um brasileiro qualquer

Um brasileiro qualquer. Uma idade qualquer, uma aparência qualquer, de qualquer lugar, de qualquer família. Desempregado, pouco estudado, e aqui considere-se o pouco estudo como o ensino médio técnico completo e mais um cursinho especializado em qualquer área.

Calmo, sóbrio, de atitudes insuspeitas, incorrigíveis. Após a formação escolar, vida adulta iniciada com todos os encargos inerentes à mesma. A esperança e o frescor do começo o conduzem a uma busca incessante, sem fadiga, por algo melhor.

Melhor condição de vida, auxiliar o sustento familiar, conseguir a independência para mandar nas próprias atitudes, conquistar os bens almejados, enfim, seguir o curso natural da vida, considerando que o curso natural da vida seja nascer, crescer, estudar, trabalhar, formar família, corresponder ou não às expectativas geradas pelos papéis atribuídos pelo status naturalmente adquirido no decorrer da vida e/ou herdado, envelhecer, morrer.

No percurso, começam a mostrar-se os obstáculos. “Não”, “Talvez”, “Pode ser que sim”, “Aguarde nosso contato”, “Assim que surgir uma vaga compatível o chamaremos”, “Infelizmente a vaga foi preenchida”: frases constantemente utilizadas em resposta ao pedido de emprego nos diversos locais procurados, sem contar a vasta concorrência que se mostra como adereço da dificuldade.

“Compre tal e fique all”, “Adquira já, você precisa”, “Tendo isto você consegue aquilo”, “Se você tiver (...), tudo será mais fácil, e você será mais aceito”, “Comece agora”, “O que você está esperando”: estas são vendidas pela propaganda, anunciadas nas mídias, das mais populares às mais requintadas, veiculadas por toda parte, confundindo, enganando, perturbando, iludindo, destruindo, desfazendo, separando, contaminando.

“Preciso disso”, “Preciso daquilo”, “Está faltando”, “Não sei como vamos conseguir”, “Meu Deus!”, “Calma, meu filho, tudo vai dar certo (...)”: estas são as mais familiares, e as que mais surtem efeito. Pedidos, às vezes indiretos, insinuados, reclamações, queixas, conselhos e avisos fazem parte dos diálogos, quando eles existem. Infelizmente os diálogos desaparecem, se desfazem, se ocultam entranhados na mais íntima e profunda solidão.

Os sentimentos começam a mudar. Aos poucos a agonia se apresenta; o desespero aparece; a raiva induz; a cólera dita o ritmo; o ódio faz bater o coração; e querem ser parte constante do todo, do cotidiano; e requerem viver, agir, falar, controlar, precipitar.

Valores confundem-se no mar de informações abstratas, concretas, objetivas, indiretas, subjetivas, denotativas, diretas, conotativas, livres, soltas, verídicas, falsas, necessárias, dispensáveis, duvidosas, esclarecedoras, obscuras, disfarçadas.

“Por quê?”. Não posso ter isso e fulano tem, não posso fazer aquilo e beltrano faz, não posso usufruir daquilo e cicrano pode. Convites apresentam-se a mim, de todos os tipos. Vários caminhos oblíquos mostram-se defronte à minha indecisão, instigando-me a participar de algo antes inatingível ou que eu pensara ser inalcançável, diante das minhas limitadas possibilidades, expandindo-as.

“Mas (...)”. E os sentimentos e vidas alheias. O que minha decisão causará a mim, a meus entes e a meu próximo. Eles não pensaram nisto, não pensam. Não consideram estas hipóteses. Detêm o poder para cuidar do todo, trabalhar em prol do geral, melhorar as condições de outrem. Até conseguir tal poder, apresentam-se da melhor e mais humilde maneira possível. Frases prontas, de efeito, slogans, musiquinhas e etc.

Um palco. Um microfone. Uma platéia, que aceita o título de néscia. Fogos desempenham o seu papel. Seguranças vigiam as redondezas, como se o local estivesse repleto de potenciais criminosos, ou então o protegido tivesse agido de maneiro incorreta e fosse sofrer as conseqüências de seus atos. Fotos salpicam, aos montes, em todas as direções. O circo está pronto para apresentar mais um espetáculo. O protagonista atrasa, um pouco.

Faz suspense. Brinca, debocha e finalmente decide aparecer. A máscara do sorriso, bem confeccionada, estampa sua face. Um tiro, certeiro, atravessa o cérebro. Correria, agitação. O bloqueio se forma; tarde. Está feito. Não resolverá, mas a minha vingança foi mais forte que eu. Terá sido atitude sensata, tanto a minha quanto a dele ?. E a família dele. E a minha. E eu mesmo. A única palavra que consegui escutar e seguir foi Revenga. Herói ou vilão (...)

André Luis - 2º período - Letras